#172 A Criação Beneficia os Perdidos?
October 28, 2014Caro Dr. Craig,
Apesar de ser um ateu, eu tenho um profundo respeito por você e outros filósofos cristãos, e devo agradecer-lhe pessoalmente por me forçar a abandonar a minha posição de ateísmo arrogante (a de Dawkins, Hitchens e Harris) e a adotar a posição de ateísmo amigável. Foi uma grande revelação para mim que alguém defendendo o cristianismo poderia soar tão racional, e até mesmo ganhar de ateus em debates. (Para o registro, eu acho que você possivelmente só perdeu dois ou três debates, e nenhum deles era sobre a existência de Deus, embora eu acho que alguns passaram perto demais para saber.)
Agora, para minha pergunta. Em seu debate com Victor Stenger, ele lançou o argumento de que Deus não poderia ser logicamente um ser perfeito e criador do universo. Em resposta, você disse que Deus não cria por causa de algo que esteja faltando nEle mesmo, mas porque a criação do universo beneficia o homem, porque assim ele pode vir a conhecer a Deus e a ter um relacionamento amoroso com Ele. Eu estava pensando, como isto se encaixa com a doutrina cristã do inferno? Se Cristo é o único caminho para Deus, e a incredulidade é punida com a eternidade no inferno, parece provável que a grande maioria das pessoas, ou pelo menos um bom número, vai acabar no inferno. De que forma poderíamos dizer que a criação beneficiou essas pessoas? A doutrina do inferno sempre foi um dos meus grandes problemas com o cristianismo, e foi a minha principal razão para me tornar um ateu.
Obrigado por seu tempo
Sinceramente,
Mark
United States
Dr. Craig responde
A
Muito obrigado por sua amável carta, Mark! Como alguém que tem o privilégio de ter experimentado, em primeira mão, a revolução que tem ocorrido na filosofia anglo-americana desde o final da década de 1960, muitas vezes me dói ver o quão desesperadamente ignorantes muitos jovens ateus e agnósticos são. Muitas vezes tão arrogantes quanto ignorantes, eles simplesmente não têm noção dos incríveis recursos intelectuais que filósofos cristãos contemporâneos têm fornecido para a formulação e defesa de doutrinas cristãs básicas. Estou tão feliz que você tenha escapado daquela subcultura infeliz.
Quanto à sua pergunta, o meu ponto em resposta a Stenger foi que, porque Deus é um ser perfeito, completo em si mesmo, sem necessidade de qualquer coisa, a criação não pode ter sido motivada por qualquer necessidade ou déficit nEle. Criação, então, deve ser um ato de graça, algo feito não por causa de Deus, mas por causa daqueles criados; ou seja, eles têm a oportunidade indescritível de estar pessoalmente relacionados com a fonte e origem de infinita bondade e amor. Nós fomos feitos para conhecer a Deus, e isto é, em vista de seu objeto, um bem incomensurável, incomparável a qualquer outra coisa, a qualquer bem finito. É realmente um privilégio incrível quando você pensa sobre isso.
Agora, a tragédia é que o incrédulo rejeita livremente este bem incomparável que Deus lhe oferece. Então, nesse sentido, ele não se beneficia por ser criado. No entanto, continua sendo verdade que a razão pela qual Deus criou ele era para seu próprio benefício, ou seja, para seu próprio bem, e cada pessoa criada tem a incrível vantagem, a oportunidade de conhecer a Deus, um benefício não apreciado por pessoas que Deus não criou (obviamente!).
Pense desta forma: se alguém lhe oferecesse um grande presente, sem compromisso, simplesmente porque essa pessoa te amava, e você rejeitou livremente o presente, então você não teria, no final, o benefício do presente. Mas a pessoa ainda assim ofereceu a você para o seu próprio benefício. E a oportunidade de ter um presente tão maravilhoso era, por si só, um enorme benefício que você teve a sorte de ter.
Não pode ser subestimado que, segundo a Bíblia, Deus deseja que todos os seres humanos sejam salvos e encontrem a vida eterna (I Timóteo 2:4), e Ele não tem prazer algum na morte do ímpio (Ezequiel 33:11). Deus criou-nos para o nosso benefício, e não Seu, e cada pessoa criada tem o benefício da oportunidade de conhecer a Deus e Seu amor para sempre, se apenas aceitar. Se ele escolher repelir a Deus e cada esforço Seu para salvá-lo, a vida do incrédulo é trágica porque ele rejeitou livremente o benefício que Deus lhe oferece.
- William Lane Craig