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Como ser um cristão para o mundo

Summary

Originalmente publicado como: “On Being a World Christian”. Texto disponível na íntegra em: http://www.reasonablefaith.org/on-being-a-world-christian.

Deus está agindo no mundo hoje! Por toda face deste planeta, como uma grande maré em seu fluxo e refluxo, o reino da luz está empurrando para trás as fronteiras das trevas. Na história mundial, estamos vivendo um momento de expansão sem precedentes da fé cristã, e grandes portas de oportunidade estão escancaradas diante de nós. Ao observar o mundo hoje, sou positivamente otimista quanto ao que o futuro reserva.

Ora, talvez isso soe um tanto surpreendente para alguns de vocês. Pelo que dizem os jornais, parece que a influência do cristianismo está continuamente minguando. O mundo está descendo pelo ralo do inferno e a igreja mostra-se impotente para detê-lo! As estatísticas mostram que desde 1900 a igreja no mundo ocidental está em firme declínio. O secularismo passou a ser a força dominante no Ocidente, moldando seu panorama intelectual, sua cultura, seus valores sociais. Nesse ínterim, a população mundial está explodindo, e parece impossível à divulgação do evangelho acompanhá-la. Tudo se mostra desesperador demais.

Bem, se é assim que as coisas parecem, então tenho excelentes notícias! Porque a verdade é que somos atores do maior drama que o mundo já viu, parte do maior de todos os movimentos da história humana, que continua a se propagar e a transformar vidas ao redor de toda a face do planeta. A atitude pessimista e defensiva que caracteriza boa parte dos cristãos ocidentais se deve em grande medida, segundo creio, a um tipo de miopia que se concentra unicamente naquilo que está ocorrendo no nosso aqui e agora imediatos e é incapaz de dar um passo atrás para enxergar o quadro mais amplo que Deus está pintando. Deve-se precisamente à ignorância dos fatos da história da igreja e da demografia contemporânea.

Olhem retrospectivamente comigo os últimos dois mil anos de existência da igreja cristã e questionem o que vemos. Tracemos uma visão panorâmica para que possamos contemplar a grande extensão da história mundial sem nos atolar nos detalhes. O que avistamos é simplesmente espantoso. Vemos o maior e mais bem-sucedido movimento da história da humanidade. Desde seu modesto começo no ministério de três anos de um obscuro pregador da Galileia, o cristianismo tem-se espalhado por todo o mundo, a ponto de hoje, no mínimo, mais de 1,5 milhão de pessoas se dizerem cristãs, assim fazendo do cristianismo a maior religião do mundo. Hoje, cerca de um terço da população mundial se diz adepta do cristianismo, em comparação com 21% do islam, 13% do hinduísmo, 6% do budismo, e assim por diante. O grande historiador da igreja Kenneth Scott Latourette, de Universidade Yale, resumiu muito bem esse fato quando escreveu:

O conjunto de fatos mais intelectualmente instigantes da história humana é que, apesar de um começo com aparência absurdamente desfavorável, num período de cinco séculos o cristianismo conquistou a fidelidade nominal da esmagadora maioria do mundo greco-romano, sobreviveu ao término daquele mundo e em dezenove séculos [...] penetrou praticamente em todo recanto habitado do globo, convertendo-se numa força modeladora em cada grande área cultural da humanidade.

Ao contemplarmos retrospectivamente a história desse movimento extraordinário, é instrutivo ver como ele se propagou. O crescimento do cristianismo tem sido comparado à chegada de uma imensa maré que avança e recua, avança e recua, e, com o passar do tempo, ganha terreno progressivamente.

O primeiro período de avanço abarcou os cinco séculos depois de Cristo. A partir de uma perseguida religião derivada do judaísmo, o cristianismo cresceu até suplantar as religiões de Grécia e de Roma e se tornar a religião estatal do Império Romano. Mas mesmo esse triunfo inacreditável não assegurava que o cristianismo sobreviveria ao declínio e queda de Roma.

De fato, durante os 450 anos seguintes o cristianismo sofreu o seu mais desastroso e duradouro recuo. O cristianismo ainda não se recuperou do golpe que o islam lhe aplicou. A expansão geográfica da fé cristã reduziu-se a 50% do que fora, e as igrejas cristãs em territórios muçulmanos começaram a declinar de modo firme e inexorável até que hoje só restam indícios delas.

Em torno de 950 d.C., porém, o cristianismo experimentou outra impulsão para frente. Esse avanço durou cerca de 400 anos, até por volta de 1350. A fé propagou-se para a Escandinávia, Ásia Central, Etiópia, China e continuou a persistir na Índia. Nunca antes nenhuma religião fora tão vastamente representada no âmbito geográfico; além disso, a influência do cristianismo na vida da humanidade foi ainda maior como resultado desse segundo avanço do que do primeiro.

A esse avanço seguiu-se novo retrocesso, mas não tão profundo nem tão duradouro como o anterior. Por 150 anos, de 1350 a 1500, a igreja sofria à medida que antigos impérios caíam e novos impérios ascendiam. O grande império mongol de Gêngis Cã desfez-se, isolando as comunidades cristãs da Ásia Central e da China do Ocidente cristão. Na Ásia Central, os mongóis voltaram-se para o islam, e hoje essa região constitui as nações dominadas pelo islamismo, ao sul da antiga União Soviética. Nesse ínterim, levantou-se o império otomano dos turcos convertendo-se na Turquia dos dias modernos, trazendo consigo o islam. Constantinopla (a Istambul de hoje), a sucessora de Roma como capital do cristianismo, foi saqueada e a famosa igreja de Santa Sofia foi convertida em mesquita, permanecendo hoje como museu. No entanto, apesar desses reveses durante esse período, o cristianismo avançou para dentro da Rússia, e Moscou declarou-se a sucessora de Roma e Constantinopla como sede do verdadeiro cristianismo.

Então, pouco depois de 1500, veio a Reforma Protestante e, como resultado do avivamento que trouxe à igreja, os dois séculos e meio seguintes foram um período de expansão fenomenal do cristianismo.

De aproximadamente 1750 até 1815 veio um período não tanto de recuo, mas de estagnação. Depois, começando em 1815 e estendendo-se até 1914 veio o que se denominou de “o Grande Século”. O movimento missionário moderno nasceu motivado pelos avivamentos evangélicos na Inglaterra e nos Estados Unidos durante o final do século XVIII, e o evangelho foi levado para a África, a China, as Ilhas do Pacífico e a fronteira americana. Nada semelhante a essa expansão, nem mesmo remotamente, poderia ser registrado a respeito de nenhuma outra religião em nenhum momento da história humana.

É interessante que, numericamente falando, a maior expansão do cristianismo durante o século XIX foi nos Estados Unidos. Em 1815, menos de um décimo da população dos Estados Unidos estava filiada à igreja. A igreja enfrentou obstáculos enormes: a população migrante para o oeste, o dilúvio de milhões de imigrantes vindos da Europa, minorias não cristãs exploradas entre escravos negros e indígenas, e assim por diante. No entanto, espantosamente, a igreja elevou-se à altura dessa tarefa. Próximo do final do Grande Século, o número de membros da igreja crescera de menos de um décimo para mais de dois quintos da população, e o ganho era proporcional em todos os âmbitos: fossem negros, brancos ou indígenas.

É provavelmente impossível exagerar a importância da evangelização realizada no século XIX nos Estados Unidos. Ela montou o cenário para que o cristianismo causasse enorme impacto no século XX com a emergência dos Estados Unidos como a principal potência mundial. Como resultado da evangelização dos Estados Unidos no século XIX, a nação mais rica e mais poderosa do mundo hoje é também a nação com o maior número de cristãos do que qualquer país e a sociedade mais evangelizada da face da Terra. Vinte e dois por cento dos evangélicos cristãos do mundo vivem nos Estados Unidos, e a vitalidade, diversidade e tamanho das organizações e atividades cristãs praticamente desafiam a possibilidade de ser descritas. Os Estados Unidos têm sido o veículo principal para levar o cristianismo ao mundo no século XX: 35% dos missionários do mundo são dos Estados Unidos e 76% das doações financeiras evangélicas do mundo vêm dos Estados Unidos. Temos muito por que glorificar a Deus!

O mundo do século XIX terminou ao se esfacelar em 1914 com o irrompimento da I Guerra Mundial, na qual o planeta assistiu ao espetáculo de nações europeias nominalmente cristãs destruindo-se mutuamente. O historiador contemporâneo Paul Johnson afirmou que a I Guerra Mundial “foi o suicídio europeu; foi também, em certo sentido, o suicídio do cristianismo”. Ele continua explicando que, embora essa guerra

[...] tenha-se desdobrado no que ainda era um contexto cristão, o mundo que dela emergiu portava os primeiros sinais inequívocos da descristianização absoluta em nível estatal. Assim, o ano de 1917 presenciou o nascimento, na Rússia, do primeiro estado dedicado à destruição das religiões de todos os tipos e do cristianismo em particular, e esse regime maligno por si só evocou a reação de outros sistemas que rejeitavam todos os limites estabelecidos do cristianismo [...]

O impacto dessa mudança na ordem mundial foi terrível. Johnson acredita que a principal causa dos horrores do século XX foi o grande poder conquistado por homens que não tinham o temor de Deus e, portanto, nenhum código absoluto de conduta moral. Lênin, esclarece ele, odiava o cristianismo e estava determinado a extirpá-lo. Para Lênin, não existia nenhum código de conduta; tudo podia ser justificado em nome do Estado e do Partido. “Dá para imaginar, então”, indaga Johnson, “por que esse monstro assassinou ou matou pela fome cinco milhões de seus próprios compatriotas e por que Stálin, seu sucessor, despachou mais 20 milhões?”. O equivalente moral de Lênin e Stálin foi Adolf Hitler. Hitler, segundo Johnson, odiava o cristianismo com uma paixão que rivalizava à de Lênin. Logo após assumir o poder em 1933, ele disse a Hermann Rauschwig que “pretendia extirpar a raiz e o renovo do cristianismo”. “Ou se é cristão, ou se é alemão”, dizia ele, “não é possível ser ambos”. Hitler achou vantajoso usar a igreja estatal até que o Terceiro Reich tivesse alcançado a supremacia e planejava erradicá-la da mesma maneira que aniquilara os judeus. “Dá para entender”, escreve Johnson, que esses dois regimes terríveis — o comunismo e o nazismo — criados por homens dedicados à destruição do cristianismo, “logo mergulharam o mundo num Armagedom ainda mais generalizado e destrutivo, que custou 50 milhões de vidas e presenciou os homens recorrerem a graus de selvageria e perversidade jamais antes praticadas e nem mesmo imaginadas? Quando foi que o mundo antes vira horrores como Auschwitz ou o Arquipélago Gulag? Eis os primeiros frutos amargos de um mundo não cristianizado”.

No período do pós-guerra, o fenômeno mais importante e extraordinário foi a retirada súbita e generalizada dos poderes coloniais ocidentais do Terceiro Mundo. À medida que os poderes coloniais se retiravam, desencadeou-se o totalitarismo, a guerra civil e a guerra entre nações para preencher o vácuo deixado. Nas quatro décadas que se seguiram à II Guerra Mundial, as guerras e os conflitos civis no Terceiro Mundo reclamaram cerca de 35 milhões de vidas, para não mencionar o incontável número de outras que pereceram ou nas prisões ou por causa da fome arquitetada por regimes corruptos, onde, como na Etiópia, os limites do governo cristão tinham sido abolidos.

Quando contemplamos essas estatísticas trágicas e terríveis, a hipótese natural, penso eu, é supor que, com o término do Grande Século em 1914, entramos uma vez mais em um daqueles calamitosos períodos de recuo do movimento cristão no mundo. E, no entanto — e esse é o paradoxo inacreditável, o segredo mais bem guardado que jamais foi ouvido no noticiário da noite —, isso não é verdade. A verdade é que, apesar desses reveses, apesar de ocorrer a descristianização em nível estatal, o século XX foi um período de avanço inacreditável para a fé cristã ao redor do mundo.

O professor Latourette caracterizou as três décadas entre 1914 e o fim da II Guerra Mundial como períodos de “avanço em meio à tempestade”. Vejam, embora o cristianismo tenha-se propagado generalizadamente durante o Grande Século, a porcentagem de cristãos em cada país era muito pequena. Porém, durante o século XX, esses porcentuais começaram a se multiplicar. Nos 30 anos que antecederam 1945, a porcentagem de cristão fora do mundo ocidental quase dobrou. O quarto de século que sucedeu a II Guerra Mundial, durante o qual os poderes ocidentais de retiraram do Terceiro Mundo, foi denominado pelo missiólogo Ralph Winter de “os incríveis 25 anos”, uma vez que o cristianismo passou por um ímpeto de crescimento sem precedentes no mundo não ocidental. Na África, por exemplo, em 1900 somente 3% da população tinham aderido ao cristianismo. Por volta de 1970, esse porcentual crescera para 28%. Na América Latina, os protestantes cresceram de menos de dois milhões em 1945 para mais de 19 milhões em torno de 1970. Por volta de 1964, ao longo de 60 anos, o protestantismo passara por um crescimento de 18 vezes em todo o mundo não ocidental. Um índice de crescimento duas vezes maior do que o índice de crescimento da população nesse mesmo período.

Mas, se os 25 anos seguintes à II Guerra Mundial puderam ser caracterizados como “inacreditáveis”, começam a faltar superlativos para o último quarto do século XX. Nunca antes na história uma porcentagem tão alta da população mundial esteve exposta ao evangelho, nem o crescimento numérico dos cristãos evangélicos tem sido tão animador. O crescimento da porcentagem de cristãos evangélicos no Terceiro Mundo tem sido espetacular. Nos 25 anos entre 1975 e 2000, o número de evangélicos no Terceiro Mundo cresceu de 68 para 300 milhões. É um crescimento de 6,7% ao ano, bem mais do que duas vezes o índice de crescimento da população. Na América Latina, por exemplo, somente 5% da população eram evangélicos em 1970. Hoje mais de 10% da população é cristã evangélica, estando as percentagens mais elevadas no Chile (17%), Honduras (18%), El Salvador (20%) e Guatemala (26%). Na África, cerca de 7% da população era evangélica em 1970; hoje ultrapassa 14%, tendo mais do que dobrado em 30 anos. Na Ásia, os avanços mais fantásticos do evangelho ocorreram no último quartel do século XX. Nos dez anos que se seguiram a 1975, o número de Protestantes na Ásia cresceu aproximadamente 10% por ano, isso comparado com um crescimento populacional de 1,7% anualmente. O número de evangélicos na Ásia em 1987 superou o total de evangélicos na América do Norte e, em 1991, superou o contingente de evangélicos em todo o mundo ocidental! Assim é que hoje, por exemplo, os evangélicos na Coreia [do Sul] perfazem agora mais de 21% da população. Na Indonésia, depois do sangrento golpe político em 1965, o cristianismo vivenciou um crescimento rápido e persistente numa sociedade predominantemente islâmica. É a primeira nação muçulmana no mundo em que esse fenômeno ocorreu. Mas uma das histórias mais espantosas é a China. Quando foram expulsos da China em 1948, os missionários partiram levando consigo o sentimento de fracasso e de derrota. Depois disso, pensou-se por muito tempo que o repressor regime comunista exterminara completamente o cristianismo na China. Mas, então, durante a década de 1970 começou a vazar da China que, apesar de forçada a existir subterraneamente, a igreja florescia e crescia. Desde o término da Revolução Cultural de Mao Tsé-tung em 1967, durante a qual cerca de 20 milhões de pessoas foram assassinadas, o crescimento da igreja na China não tem comparação na história, totalizando hoje mais de 90 milhões de crentes, aproximadamente. Nas palavras de Patrick Johnstone, Mao Tsé-tung tornou-se a contragosto o maior evangelista da história!

Ouçam, Deus está agindo no mundo hoje! Ele está edificando a sua igreja, exatamente como a vem construindo ao longo dos séculos. Sou lembrado das palavras de Jesus em Mateus 13.31-32:

O reino do céu é comparável a um grão de mostarda que um homem pegou e semeou em seu campo. Mesmo sendo a menor das sementes, quando cresce é o maior dos arbustos e torna-se uma árvore, de modo que as aves do céu vêm e se aninham nos seus ramos.

Talvez todas as estatísticas que compartilhei até aqui possam ser resumidas em alguns números extraordinários informados por Ralph Winter. Numa tabela denominada “A tarefa minguante”, ele registra o número de cristãos evangélicos em comparação com o número de não cristãos no mundo. Essas cifras não incluem em nenhuma categoria os que são apenas cristãos nominais. No ano 100, havia 360 não cristãos para cada cristão evangélico. Em torno do ano 1000, havia 220 não cristãos para cada evangélico. Mais ou menos no ano 1900, havia apenas 27 não cristãos por evangélicos. Perto do ano 1950, esse número tinha encolhido para 21 não cristãos por cristão evangélico. E, no ano 2000, existiam 7 não cristãos para cada crente evangélico no mundo. Se forem acrescentados todos os cristãos nominais, bem como os alvos de evangelização, ainda significará que há somente cerca de 9 incrédulos para serem evangelizados para cada crente.

Você acredita na possibilidade de evangelização do mundo? Eu acredito! Estamos acostumados demais a ouvir sobre a explosão da população mundial superando o crescimento do cristianismo, mas as estatísticas que acabei de partilhar mostram que isso não é verdade. O cristianismo evangélico está crescendo três vezes mais rápido do que a população do mundo. Dá para perceber que a maior parte das pessoas que já viveu na história no mundo está vivendo agora, exatamente neste momento? Temos os números, os recursos financeiros e a tecnologia para evangelizar o mundo inteiro em nossa geração — e com isso alcançar a maioria da raça humana que já viveu sobre a face deste planeta! Percebe-se por que estou tão animado?

E o melhor ainda está por vir. A maior dificuldade em alcançar o mundo inteiro hoje é o fato de centenas de milhões de pessoas viverem em países oficialmente fechados para o evangelho e, por isso, o evangelismo ser quase impossível. Estima-se que entre 15%—25% da população mundial esteja fora do alcance presente do evangelho. Mas nesse aspecto, também, Deus está agindo de maneiras inacreditáveis e imprevisíveis. Os manuais sobre missões mundiais publicados na década de 1980 lamentavam o fato de que 20% da população mundial era classificada como não religiosa ou ateia, tornando o ateísmo a segunda maior religião depois do cristianismo. Mas, evidentemente, a maioria das pessoas inseridas nessa classificação vivia em países comunistas, como a União Soviética ou a China, nos quais a ideologia oficial era ateísta. O desmoronamento político da União Soviética permitiu a proclamação aberta do evangelho naqueles países, resultando em maciço retorno a Deus. O colapso do sistema comunista e da ideologia marxista-leninista aconteceu de maneira tão repentina, tão inesperada, que as publicações sobre o panorama atual se tornaram obsoletas da noite para o dia. O manual Operation World [Operação mundo], publicado em 1986, por exemplo, tinha isto a dizer sobre a União Soviética:

Orem para que o empenho ativo de professores ateus, leis discriminatórias, polícia secreta e aprisionamentos para acelerar o fim do cristianismo não somente fracassem, mas que a igreja emerja vitoriosa.

Em 1985, o novo líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev, jurou que faria o que seus antecessores não conseguiram alcançar: a eliminação da crença religiosa na URSS. Orem para que esse fracasso seja abundantemente demonstrado nos anos por vir!

Uau! Pense numa resposta de oração!

O sistema marxista-leninista, que conquistou mais de um quarto da superfície da Terra e resultou na perda de milhões e milhões de vidas e em sofrimento humano incalculável, que proibiu um bilhão de pessoas de ouvir e crer no evangelho, evaporou-se quase da noite para o dia. George F. Kennan, que elaborou a política de guerra fria dos Estados Unidos, disse que os eventos dos anos recentes na antiga União Soviética foram alguns dos mais importantes na história da humanidade. Quase não dá para acusá-lo de exagero: a ameaça de um holocausto nuclear de alcance mundial, a corrida armamentista, as guerras de libertação nacional patrocinadas pela União Soviética, tudo isso já era. E, espiritualmente falando, as mudanças igualmente fantásticas: mais de 416 milhões de pessoas da Europa oriental e da União Soviética, das quais menos de 3% são evangélicas, estão agora abertas ao evangelho. Especialmente importante é o fato de que as repúblicas islâmicas, como o Cazaquistão e o Quirguistão, nas quais o cristianismo estava extinto desde o século XV, estão agora abertas ao evangelho. Conforme falamos, mudanças surpreendentes continuam acontecendo nessas regiões. A recente libertação do Afeganistão e do Iraque pelos Estados Unidos tem permitido a entrada de agências de ajuda cristãs em países islâmicos, e quem sabe como Deus pode usar isso para o Reino?

Que privilégio é viver nos dias de hoje! Ser parte desse momento estratégico na história, em que Deus está se movendo no mundo de maneiras tão extraordinárias. Sim, certamente ainda há obstáculos à evangelização do mundo, sendo o mais importante deles a Cortina Islâmica. Mas tenho a plena convicção de que, igualmente à Cortina de Ferro, a Cortina Islâmica também cairá durante a nossa vida, e o evangelho também penetrará nesses países. Tal fato pode ocorrer de maneiras inesperadas. Conversei recentemente com um jornalista internacional cristão estabelecido em Pequim. Ele disse que, quando conversa com cristãos chineses, eles lhe dizem unanimemente que creem que Deus chamou particularmente a igreja da China para evangelizar o mundo islâmico. Eles querem levar o evangelho de volta para Jerusalém ao longo da antiga Trilha da Seda e das rotas de caravanas que atravessam as repúblicas islâmicas da Ásia Central. “Vocês americanos têm todo o dinheiro e a estratégia”, disseram-lhe, “mas nós conhecemos a perseguição, conhecemos o martírio e não temos medo”. Parece que a obra de evangelização começada pelos britânicos e levada adiante pelos americanos será finalmente completada por nossos irmãos asiáticos.

Portanto, mesmo que o cristianismo esteja em declínio no Ocidente, isso não significa que Cristo deixou de edificar a sua igreja. Você sabia que hoje dois terços de todos os evangélicos vivem no Terceiro Mundo? Além disso, até mesmo no Ocidente, as estatísticas gerais que apresentei aqui, no começo desta palestra, na realidade mascaram um fato importante, ou seja, que entre as igrejas evangélicas no Ocidente a tendência tem crescido lentamente e só foi deslocada pelo declínio abrupto nas principais denominações liberais. À medida que as principais igrejas são cada vez mais postas de lado, o cristianismo perde sua posição de influência dominante em nossa cultura. Mas, à proporção que as igrejas evangélicas continuarem a crescer e especialmente à medida que os cristãos evangélicos viverem vidas de santidade pessoal, inteligência e compaixão, há esperança para renovação e reforma nos Estados Unidos. Lembrem-se: o padrão de crescimento da igreja ao longo de toda a história retrospectivamente tem sido sempre o de avanço e recuo, avanço e recuo, com o avanço geral ao longo do tempo.

Noutras palavras, não devemos ser meramente espectadores, mas atores desse drama. Não importa quão pequeno ou aparentemente insignificante nosso papel possa ser, podemos dar a nossa contribuição. Permitam-me concluir com cinco sugestões práticas quanto ao que você pode fazer:

1. Adquira um exemplar de Operation World [1], de Patrick Johnstone, e leia diariamente sobre o país do dia. Você se tornará imensamente mais bem informado sobre o mundo no qual vivemos, e essa conscientização a respeito do mundo é, creio eu, a verdadeira chave para a mobilização da igreja para missões mundiais hoje. Precisamos, na nossa mentalidade, nos tornar cristãos para o mundo.

2. Faça amizade com um estudante estrangeiro. Cada ano, milhares de estudantes de altíssimo nível deixam suas pátrias e vêm estudar nos Estados Unidos. E sabe o que mais? Muitas vezes temos ouvido que eles ficam na expectativa de que alguém lhes fale sobre o cristianismo, sobre Jesus. Normalmente, estão muito longe do lar e da família e toda hospitalidade e gentileza que você demonstrar por eles é uma dádiva que guardarão como um tesouro. Inclua-os nas atividades das férias, quando as universidades estão vazias, ou apenas convide-os para uma refeição. Compre um livro cristão evangelístico ou mesmo um Evangelho de João e dê-o de presente a eles. Da próxima vez que vocês se encontrarem, talvez ele queira perguntar-lhe alguma coisa. Muitos estudantes que têm contato com famílias cristãs convertem-se ao cristianismo durante a permanência nos Estados Unidos. Quando esses estudantes retornam a seus países, assumem papeis de liderança em suas nações. Eles podem abrir as portas para missionários e influências cristãs. Eis um campo missionário na porta da sua casa e você nem imagina o impacto que o seu ministério pode ter na vida deles!

3. Envolva-se com um missionário ou agência missionária específicos. Não dê apenas dinheiro à igreja e fique esperando que ela aplique sua oferta em seu lugar. Você também deveria envolver-se com a ajuda financeira de um missionário específico, além de orar por ele; alguém que você conheça pessoalmente, cujo campo de trabalho seja um fardo para seu coração e cujo ministério você sabe que é eficaz.

4. Dê generosamente para a obra do Senhor. Nós, americanos, somos ricos demais em comparação com o resto do mundo. Muitos de nós deveríamos estar doando de 20% a 30% de nossos rendimentos para a obra do Senhor. Não me lembro de ter conhecido um único missionário em atividade com o qual eu tenha conversado sobre finanças que me dissesse estar plenamente amparado do ponto de vista financeiro. Isso é realmente indesculpável. Nós podemos e deveríamos estar dando mais.

Quero dirigir uma palavra especial a vocês que são estudantes. Dentro de poucos anos, vocês estarão formados e começarão a ter uma renda. De início, poderá ser pequena, mas ao longo dos anos ela crescerá gradualmente e os padrões que você estabeleceu no começo permanecerão. De que maneira você vai gastar o dinheiro que Deus lhe confiou? O apóstolo Paulo disse: “Ordena aos ricos deste mundo [...] que pratiquem o bem e se enriqueçam com boas obras, sejam solidários e generosos”. Então, você diz, “Mas eu não sou rico”. Não? Você não tem ideia do quanto é rico. Apenas imagine do que teria de abrir mão para viver como um bilhão de pessoas no Terceiro Mundo que vão para a cama com fome todas as noites.

Agora, por que estou partilhando isso com vocês? Para fazê-los sentir-se culpados por serem afortunados o suficiente por terem nascido nos Estados Unidos? De modo algum! Antes, gostaria que se fizessem duas perguntas:

1. Por que acha que Deus, em sua providência, permitiu que vocês nascessem nos Estados Unidos e fossem abençoados com tamanha abundância material e espiritual?

2. Diante da superabundância que desfrutam aqui, o que pensam ser sua menor responsabilidade para alcançar milhões de pessoas perdidas que sofrem no mundo?

Jesus disse: “A quem muito é dado, muito será exigido”. Então, o que se exige de vocês?

Tenho a esperança de que, depois de formados, vocês não apliquem o coração em comprar uma grande casa, um carro zero e um guarda-roupa chique. Tenho a esperança de que almejem ofertar entre 20% e 30% de seus rendimentos para a obra de Deus. Jesus afirmou que “onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. Aquilo em que você gasta o seu dinheiro é como um barômetro do seu coração. Quando se trata de ganhar o mundo perdido para Jesus, os mesquinhos não entendem o coração de Jesus Cristo. Jesus nos mostra vezes sem conta onde estava o coração dele: “o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.” “Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.” “Sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra.” O coração de Jesus Cristo está posto na humanidade perdida e que caminha para a morte. Se o seu coração estiver perto do coração de Jesus, então o seu dinheiro estará onde o seu coração estiver: em ajudar a ganhar o mundo para Cristo.

5. Procure ser realmente uma testemunha cristã cheia do Espírito. Você faz parte do maior de todos os movimentos da história da humanidade. Portanto, não fique intimidado. Fale ousadamente de Cristo para seus amigos e colegas de trabalho, ao mesmo tempo em que faz o melhor para ser um verdadeiro discípulo de Cristo, levando vida santa e agradável a Deus, manifestando o fruto do Espírito e impregnado da verdade da doutrina cristã.

Há um conhecido provérbio que diz: “Se te sentes longe de Deus, advinha quem se afastou?”. O problema dessa frase é assumir que nosso Deus é um Deus inerte, imóvel. Mas ele não é assim! Deus é o Deus que age e podemos nos distanciar dele apenas ficando parados. Não seja deixado para trás neste momento crítico e emocionante da história do mundo. O mundo pode ser alcançado nesta geração. Portanto, como cristãos para o mundo, vamos orar, ofertar e trabalhar com esse propósito.

  • [1]

    Diversas edições já foram publicadas em português com os títulos Batalha mundial, Operação mundial e Intercessão mundial. [N. do R.]